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Folha em Branco

Folha em Branco

Dom | 23.03.14

Um até breve a uma pessoa muito querida...

- Olá

- Ena por aqui?

- É verdade, já não te via há imenso tempo...

- Temos de nos juntar e beber um café, sabes que a T voltou a viver aqui? E o R trabalha ali ao lado... 

- Pois é, temos de combinar.

 

"Hoje trabalho até tarde."
"Vou para fora no fim-de-semana."
"Estou doente..."

 

São muitas as coisas que vão acontecendo na vida de cada um de nós e que nos obrigam a adiar cafés, jantares, encontros. "Na próxima semana já vou ter mais tempo...". Trabalho, faculdade, casa, são muitas as coisas que nos ocupam o tempo e nos levam a adiar encontros com amigos.
Tinha um café assim marcado com dois amigos de escola, com duas pessoas que conheço desde os meus 5 anos e com quem brincava depois de acabar os trabalhos de casa.
Crescemos, cada um seguiu o seu caminho mas mesmo no liceu tinha o João como companhia para ir para a escola (quando os horários eram compatíveis). Quando andei de canadianas era ele que me levava a mochila até ao liceu, vinha sempre mais cedo porque eu demorava o dobro do tempo a fazer o caminho até à escola. 

Quando éramos pequenos íamos os dois para casa da professora Alice (primária) estudar e fazer as prendas do dia da mãe / pai à socapa. Jogávamos à bola no meio da estrada e brincávamos no parque. Os nossos vizinhos até diziam que namorávamos, mas não. Apenas amigos e colegas de escola que eram vizinhos desde que tinham nascido. Saímos da maternidade para vir para casa e nunca nos tínhamos mudado.

O João adoeceu, hospital, cama, mas ocasionalmente tinha melhoras. Ia ao facebook e punha umas fotos sempre com um sorriso para dar até que tocou o telemóvel "já sabes da notícia?". Caiu-me o mundo. Como pode alguém tão novo, com o futuro pela frente partir assim? 

O nosso café combinado nunca foi tomado, sempre adiado e agora já não poderá ser porque a vida se meteu no meio. 

 

Fiquei a pensar, porquê adiar? Podíamos ter tirado cinco minutos das nossas vidas para ir a um café. Temos uns 5 à beira das nossas casas, nem tínhamos de ir de carro.
A vida é curta e temos de aproveitar os momentos que temos com os nossos amigos pois nunca sabemos quando teremos de dizer adeus.

O João vai ficar para sempre na minha memória como um moço sorridente e alegre, meio cabeça no ar e apaixonado pela vida. Acredito que agora tens a paz que mereces e podes descansar. Sei que não querias que ninguém ficasse triste por ti e pela tua partida por isso peço desculpa pelas lágrimas que verti e prometo que vou sorrir quando pensar em ti e não pensar em tristezas.

Para mim não é um adeus. É um até breve meu querido João...

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