Do outro lado do espelho
Pegar no telemóvel e nada. O silêncio ensurdecedor que permitia ouvir, não a tristeza mas a raiva crescente de dia após dia à espera pelo que insistia em se fazer adiar.
A dormência chega e toma conta, a calma e a paz juntam-se numa mistura de dias que passam até que chega o nada.
Do outro lado do espelho olha alguém e sorri. Pego nos pincéis e pinto a mesma figura numa tela pálida e nua. Desenho-lhe a roupa e coloco um sorriso.
O telemóvel toca para dizer que sim. O sim que se sabe ser um silêncio que se confirma pouco depois.
Esquecimento seguido de um olhar sobre a nova tela que se apresenta horas depois e aproxima-se para ser rejeitado.
Olhou-se ao espelho e sentiu-se ser quem é. Jamais esperar, jamais adiar. Tinha sido a última vez. Ele questiona-se quando ela vira costas sem sentir tristeza pelo que deixa para trás.