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Folha em Branco

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Seg | 26.01.15

Blogosfera: Sofia Teixeira (Bran Morrighan)

Olá a todos!

Os mais atentos sabem que, no ano passado, eu tentei criar uma série de entrevistas a bloggers que acompanho, no entanto a vida meteu-se pelo meio e depois tudo o resto...
Este ano ando a dar a volta a casa e a dar ordem a este caos que tem marcado a minha presença nas várias redes, incluindo aqui o blog. Aos poucos tudo se tem organizado e agora chegou a altura de voltar ao plano das entrevistas. Todos os meses irei tentar apresentar um blogger e dar-vos a conhecer um pouco mais sobre o que acontece no background da bloggosfera.

 

 Quem anda nestas coisas dos livros e acompanha blogs é quase impossível não conhecer o Bran Morrighan. Um blog escrito pela mão da Sofia Teixeira que, durante o último ano fez a transição que eu já há muito estava à espera.

 

Vamos lá ver se não me esqueço de nada: Estudante, professora, jogadora de basket, blogger, repórter, … pareces ser a mulher dos sete ofícios. Mas conta-nos lá afinal quem é a Sofia Teixeira?

A Sofia Teixeira é uma miúda de 26 anos que tem uma sede de vida inacreditável. Passo a vida a discutir com ela, não tens noção (risos). Bem, dá para imaginar a quantidade e diversidade de pensamentos que por vezes competem com a minha atenção não dá? No fundo, a Sofia Teixeira é uma mulher que quer preservar a capacidade de olhar para o que a rodeia como se fosse a primeira vez, como quando somos crianças e começamos a descobrir cada um dos nossos cinco sentidos – com deslumbramento e ao mesmo tempo cautela, tendo sempre a noção que só eu, por mim mesma, poderei descobrir aquilo de que gosto e de que não gosto.

 

O BranMorrighan começou como um espaço pequeno sobre neo-paganismo, daí passou a pequeno diário pessoal e como se deu o salto para o blog de referência da esfera literária?

Acho que se soubesse responder a esta questão significaria que tudo teve um propósito ou um fio condutor, coisa que não aconteceu. Acho que o mais perto que consigo de tentar explicar o que, para mim, ainda é uma espécie de fenómeno, é que com o tempo eu cresci e comigo também o BranMorrighan cresceu ao tornar-se uma extensão, uma projecção virtual de algumas facetas reais minhas. Não é falsa modéstia quando digo que ainda hoje não encaixo completamente em mim essa categoria de “referência da esfera literária”. Não querendo ser mal agradecida por quem me tem considerado tal, não sei se as pessoas têm noção que todo o trabalho literário é feito por apenas uma pessoa. Dizerem que o BranMorrighan é uma referência é dizerem que a Sofia Teixeira é uma referência e isso, para mim, não se coloca. Não me vejo como uma referência literária; não tenho formação na área, não tenho uma escrita espectacular, tenho apenas uma paixão pelos livros que é comum a muita gente, eu apenas sou louca o suficiente para o expressar abertamente mesmo que não vá de encontro aos gostos dos outros. Se ser atrevida, ou corajosa, pode ser sinónimo de referência, então aí bate certo

 

Sabes que te acompanho há alguns anos e tenho visto o teu blog crescer. No último ano o teu blog cresceu e alterou-se. Como está a correr esta aventura no mundo da música?

Um ano... Sim, precisamente um ano! O tempo passa num instante! Sabes, é um mundo completamente diferente da literatura. Muito mais dinâmico, muito mais a acontecer a todo o momento, é de loucos. Só a semana passada tive a oportunidade de ver três concertos e faltei a outros três – todos em Lisboa – só a título de exemplo. Mas voltando à questão principal, está a correr muito, muito bem. A música, a par com a literatura, por vezes mais, sempre teve uma grande importância na minha vida. Todos passamos por aquelas fases de adolescente em que andamos viciados com os leitores de cassetes, ou com os discmans, e os headphones, volume no máximo e é rebeldia por todos os poros. Digo eu; eu passei por essa fase, a fase do punk, do metal, para depois estabilizar num mar de sons tão eclético como inclassificável. Conhecer artistas que admiro há anos, sentar-me a conversar com eles, poder ir a muitos mais concertos por, felizmente, conseguir entrar como imprensa, bem, não podia pedir mais, pois não? Tenho conhecido pessoas inacreditavelmente tão talentosas como magníficas enquanto seres humanos. Estou mesmo muito feliz.

Como é que a fotografia entrou na tua vida?

Lembras-te do evento no Auditório Orlando Ribeiro? O meu primeiro evento com literatura e música? Ainda nem tinha noção do que andava a fazer... Acontece que tinha um amigo meu, com a máquina de outro amigo que a tinha emprestado, a tirar umas fotografias. No fim, deixou-me a máquina para eu devolver ao meu amigo. Quando a ia devolver, ele falou-me que estava a pensar vendê-la, por querer comprar uma melhor. Bem, tornou-se na minha primeira máquina. Uma Canon 450D, com uma lente de 50mm f1.8, que rapidamente se tornou noutra extensão de mim. Nunca tinha fotografado na vida nem sabia se me iria conseguir entender com a máquina, até que um dia vi que os You Can’t Win, Charlie Brown iam tocar na FNAC do Chiado, num show case, e decidi levá-la. Terríveis as fotos! Passado pouco tempo, essa mesma banda, fez uma temporada de três dias no Musicbox. Tanto a banda como o local viriam a tornar-se tão especiais para mim que é inimaginável. A banda porque, para além de os admirar enquanto músicos e grupo, tornou-se no meu primeiro projecto fotográfico. Fiz n experiências durante aqueles dias e foi quando me tornei companheira da máquina, sem grande brigas, só uma grande curiosidade. O local porque é onde mais fotografo – mesmo sendo um local complicado por o ISO da minha máquina ser no máximo de 1600 – e porque veio ser a primeira casa a albergar um primeiro evento puramente musical do meu BranMorrighan. Não me considero, de todo, uma fotógrafa e muito menos uma boa, mas sim, tem sido uma boa aventura

 

Sei que a tua noção de tempo livre é um bocado diferente da maioria das pessoas, mas tenho de perguntar: como os ocupas?

Hum. Ok, disse-te que ia responder a esta entrevista com as primeiras coisas que me viessem à cabeça, mas esta é complicada. É assim, o blogue é algo que faço nos tempos livres e nos tempos a que forço que sejam livres. Tentando ainda assim responder ao que me perguntas, acho que esses tempos livres podem ser aqueles em que escolho fazer todas essas , e mais algumas, sem que esteja directamente relacionado com todas as minhas actividades. Ou seja, eu adoro ir ao Porto, ou a Leiria, só por ir. Ir a Paredes de Coura no Verão então é certinho direitinho. E gosto quando é decidido assim, em cima da hora. Levo na mesma o meu livrinho, o pc vai de arrasto por descarga de consciência, mas nesses dias só quero estar com as pessoas. É isso! A resposta é mesmo esta – nos meus tempos livres gosto de me encontrar e de estar verdadeiramente com as outras pessoas. Quer estejam relacionadas ou não com o que costumo fazer, sabe bem trocar ideias, passear, ir ver uma peça ou sentar-me debaixo de uma árvore qualquer a apanhar sol e ver o rio ou o mar. Sempre que posso, é para esses sítios onde tenho um maior contacto com as pessoas e a natureza que me refugio. Parecendo que não, tudo o resto, mesmo quando lido com dezenas de pessoas diariamente, é bastante solitário.

 

A pergunta complicada... o nosso país é tão pequeno e toda a gente se conhece. Como é a tua relação com outros bloggers?

Ahahah, ora aí está a pergunta de um milhão. Falas-me de bloggers de música ou de literatura? É que também esses são diferentes uns dos outros, não sei, deve ser dos sentidos que despertam também serem diferentes ou terem diferentes intensidades. No geral, dou-me bem com aqueles que me são mais próximos e não o escondo. É fácil as pessoas perceberem de quem eu gosto ou com quem convivo mais porque sou uma pessoa expressiva. Depois existem os restantes, que respeito. Quer goste ou não das pessoas, respeito o que fazem... Ou o que tentam fazer. Estou nisto da blogosfera há mais tempo do que a maioria. Já vi muitos blogues a serem formados, outros tantos a desaparecer e ainda mais aqueles que acharam que tinham algo a dizer e depois acabaram por não dizer nada. Aqui o simples é que eu escolho as pessoas com que me dou e, tal como eu respeito as escolhas dos outros, só posso esperar que respeitem as minhas.

 

E planos para o futuro?

Há quem use a expressão “um dia de cada vez”, eu já desisti , uso a expressão “uma hora de cada vez”. Neste momento estou a acabar de responder às tuas perguntas e a imaginar a quantidade de haters e copy cats que me estão a chamar nomes ao lerem a resposta anterior. (risos) Depois disso tenho um relatório de doutoramento para terminar e ainda uma série de outros assuntos académicos para tratar. Bem, é sempre tudo uma incógnita não é? Eu não sei o que vai acontecer no futuro, mas sei o que quero sentir no futuro – uma realização e gratificação idênticas, ou mais fortes, às que senti neste último ano. Foi um ano muito exigente, normalmente só dou a conhecer as coisas boas, as más nem por isso, mas valeu a pena. De imediato vou ter nova Festa de Aniversário no Porto e, não querendo prometer datas concretas, lá para o final de Fevereiro ou Março, o lançamento da colectânea Desassossego da Liberdade. Vou ter o nosso grande Noiserv a estrear-se na literatura e o conto dele é só lindíssimo. Mal posso esperar!

 

Foto: Vera Marmelo