Fita isoladora
Saio de casa, vou para a paragem e entro no autocarro. Ligo o meu mp3 tão alto quanto possível, numa tentativa de evitar ouvir as conversas sobre a lentidão com que os funcionários da segurança social trabalham. Antes do resumo das telenovelas vem a frase mais famosa "a juventude está perdida" ou "se aquela rapariga fosse minha filha...". Pouco depois (dependendo do trânsito) apanho o metro e saio uma estação depois (ainda é um bocadinho...) para ir para a faculdade e sempre de mp3 ligado. Chego, entro na sala e sento-me. Converso se alguma das cinco pessoas com quem falo entrar logo a seguir. Caso contrário abro um livro ou pego numa folha em branco e dou asas à imaginação e faço um desenho (não é para me gabar, mas até tenho jeito). No fim do dia (agora é mais ao fim da tarde...não tenho aulas de manhã e saio às 17:30 no máximo) passa-se mais ou menos a mesma coisa, depois de sair do metro apanho o autocarro até casa sempre de mp3 ligado, a ler qualquer coisa ou se tal for possível a dormir (todos os dias admiro-me como é que, quando adormeço, acordo sempre um bocadito antes da minha paragem...ainda não ferrei bem...). Por vezes tenho a impressão de que tenho uma fita qualquer em meu redor que isola de algumas pessoas...a verade é que me isola da maioria das pessoas. Não tenho muitos amigos, tenho muitos conhecidos. Amigos são poucos, mas muito bons e quem está a ler isto (e me conhece) sabe muito bem que os meus amigos são aqueles que guardam os meus segredos e esses só os confiei a três pessoas (curiosamente são todos rapazes) e elas sabem quem são. Será que ter esta fita me faz bem? Talvez sim, talvez não, é um mistério, mas até hoje não tenho razões de queixa e a verdade é que mais vale um verdadeiro amigo do que dois ou três falsos verdadeiros amigos.