Um olhar ao luar
Abrir os olhos pela manhã e sair de uma cama vazia sem se dar ao trabalho de vestir o quer que seja pois as rendas que se moldam ao corpo pálido não são vistas por outro alguém.
Os pés descalços caminham sobre um chão frio de uma casa habitada por uma única alma destroçada e solitária. Uma caneca de café acompanha-a até ao quarto onde procura uma t-shirt escura para cobrir o tronco despido e senta-se à secretária.
Os olhos passeiam por mails e papeis antes de abrir o word e começar a escrever uma outra memória de uma vida de ilusões quebradas como espelho que cai ao chão.
Cada palavra escrita é uma lágrima guardada por dias, semanas, meses de suspiros eternos a pensar no que poderia ter sido. Cada vírgula um sorriso trocado e um abraço oferecido em tardes conjuntas nos jardins das memórias criadas entre dois amigos, jamais amantes. O ponto final foi colocado com uma dor no coração por saber que nada seria igual dali para a frente.
Levantar-se e tomar um duche para colocar outra peça de renda e deitar-se cobrindo-se apenas com um lençol. Antes de fechar os olhos uma lua brilhava à beira da sua cama e sentiu-se acompanhada e pronta a entrar no seu mundo, aquele onde tudo era realidade.
imagem de David Burbank