Nuvens nos livros
Baixar a tampa do portátil e levantar-me com o meu caderno na mão. Tinha de os encontrar era uma aventura pois aquelas prateleiras eram ainda desconhecidas pelo meu olhar. Pego num e depois noutro. Quando já tenho seis levo-os para a mesa, mas ainda não estavam todos e tenho de voltar aos corredores escurecidos pelas altas estantes repletas de volumes todos eles diferentes na cor e tamanho. É uma lombada vermelha com letras douradas que me chama a atenção. Leio a cota 29(082) EC-4. Não estava na minha lista mas não resisti a pegar nele e juntá-lo à outra pilha que já tinha apoiada no outro braço. Estava em francês. Com um suspiro volto à mesa onde já tinha três pilhas de livros e começava a atrair os olhares de alguns estudantes.
Sento-me em frente à minha amiga que tinha ido comigo para aquela biblioteca para me fazer companhia e vi que sorria perante o meu ar de medo ao olhar para tantos livros. Respirei fundo e preparei-me para começar a analisar os índices de cada um daqueles mais de vinte volumes que tinha recolhido de vários corredores. Pego num e após ler atentamente os títulos dos vários capítulos vejo que é interessante. Pouso-o na secretária criando uma nova pilha, e assim passo a meia hora seguinte. Faltava um livro "só mais um" disse a mim mesma num murmúrio quase inaudível que era um grito no silêncio sepulcral daquele espaço. Peguei nele com especial cuidado e abri-o revelando as suas páginas envelhecidas pelo passar dos anos. Li-o devagar, saboreando cada palavra na minha mente mas chegou a hora de o fechar e espirrei com a nuvem de pó que dele saiu em forma de cogumelo como se fosse uma mini bomba atómica. Foi neste momento que o livro perdeu a sua beleza e me tornei alérgica à sua presença que infelizmente me acompanhou até casa para inundar o meu scanner com os seus ácaros imundos de que o meu nariz entupido se queixou incessantemente até que finalmente o meti num saco e fechei a minha mochila para que só lhe pegue no dia em que o tiver de devolver à bibliotecária.